segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

sete poemas portugueses

5.

prometi-me possuí-la muito embora
ela me redimisse ou me cegasse.
busquei-a na catástrofe da aurora,
e na fonte e no muro onde sua face,

entre a alucinação e a paz sonora
da água e do musgo, solitária nasce.
mas sempre que me acerco vai-se embora
como se me temesse ou me odiasse

assim persigo-a lúcido e demente.
se por detrás da tarde transparente
seus pés vislumbro, logo nos desvãos

das nuvens fogem, luminosos e ágeis!
vocabulário e corpo-deuses frágeis-
eu colho a ausência que me queima as mãos.

Ferreira Gullar  ( A luta corporal)

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